TULLE, França, 19 Jan (Reuters) - A intervenção militar da França em Mali irá durar enquanto for necessária para derrotar o terrorismo na região, disse o presidente François Hollande no sábado.
"As pessoas frequentemente perguntam quanto tempo isso irá durar. Eu respondo, o tempo que levar. O tempo que levar para vencer o terrorismo nessa área", disse.
Hollande, que ordenou os jatos de guerra franceses à ação em Mali há uma semana para parar o avanço islâmico, também disse que a crise de reféns na usina de gás no deserto na Argélia oferece mais evidência de que a ação da França na região é justificada.
Ele disse que tentativas das autoridades argelinas de extirpar os sequestradores estavam para acontecer mas os relatos agora são de que a operação já chegou a um fim.
"Reféns foram mortos, assassinados de forma covarde", disse Hollande.
(Reportagem de Brian Love e Elizabeth Pineau)
Governo argelino diz que 23 reféns e 32 sequestradores morreram em campo de gás desde quarta-feira.
O Ministério do Interior da Argélia anunciou neste sábado (19) que 23 reféns foram mortos desde quarta-feira, quando um grupo extremista sequestrou um campo de gás localizado em In Amenas, no leste do país. O Exército argelino finalizou hoje a operação para retomar o controle da jazida. Do lado dos sequestradores, 32 foram mortos.
ENTENDA O CASO
Em 11 de janeiro, a França se declarou em "guerra contra o terrorismo" no Mali, intervindo militarmente na nação africana, a pedido do governo local. O objetivo é combater grupos extremistas que controlam várias regiões do país, sobretudo o norte. Para a intervenção, a França obteve apoio da ONU e da Otan, além de apoio logístico de vários países europeus, entre eles o Reino Unido, e os Estados Unidos.
No dia 13, a Argélia permitiu que a França utilizasse seu espaço aéreo para intervir no norte do Mali, o que levou um grupo extremista a sequestrar um campo de gás em In Amenas, no centro-leste da Argélia. A ação foi uma represália à decisão do governo local. O campo de In Amenas é controlado por um consórcio formado pela argelina Sonatrach, a britânica BP e a norueguesa Statoil, e produz gás equivalente a 160 mil barris de petróleo por dia, mais de um décimo da produção de gás da Argélia.
Na quinta-feira (17), o Exército argelino realizou uma primeira operação para retomar o controle do campo. Um bombardeio das forças oficiais deixaram um número indeterminado de mortos e feridos. Finalmente, no sábado (19), terminou a operação do Exército. O Ministério do Interior declarou que 23 reféns e 32 sequestradores morreram.
As forças argelinas conseguiram libertar 685 empregados argelinos e 107 estrangeiros, informou ainda o ministério, citado pela agência APS.
Hoje, a operação final do Exército terminou com 11 sequestradores e sete reféns mortos. Segundo o jornal argelino "El Watan", que citou fontes oficiais, os extremistas teriam matado os reféns e, depois, foram mortos pelos integrantes das forças de segurança.
O ataque foi comandado por um grupo que se identifica como "Aqueles que assinam com sangue", do argelino Mokhtar Belmokhtar, um dos fundadores da rede terrorista Al Qaeda no Magreb Islâmico. Os sequestradores enfrentaram um primeiro ataque do Exército na quinta-feira.
Nacionalidade incerta
O grupo terrorista havia informado, na sexta-feira, que mantinham em cativeiro três belgas, dois americanos, um japonês e um britânico. Porém, a Bélgica informou não ter nenhum indicio da presença de belgas entre os reféns.
De acordo com o relato do jornal argelino "El Watan", os terroristas perderam qualquer esperança de sair do local com os sete reféns, e começaram a matá-los, o que teria levado as forças especiais do Exército a intervir.
A mesma fonte ouvida pelo "El Watan" afirmou que os terroristas tinham decidido se suicidar coletivamente e que, na quarta-feira, já tinham tentado incendiar parte das instalações, mas os operários do complexo conseguiram controlar o fogo.
CRISE NO MALI ATINGE A ARGÉLIA
Comunidade internacional faz apelo
Antes da ação final das forças argelinas, representantes de vários países tinham feito um apelo ao governo local. Eles pediam que a Argélia tomasse todas as medidas possíveis para garantir a segurança dos reféns.
Os governos dos Estados Unidos e do Japão pediram que a vida dos reféns fosse prioridade máxima do governo argelino.
O Conselho de Segurança da ONU condenou o incidente, e afirmou que a tomada de reféns na Argélia destaca a necessidade de levar a julgamento os responsáveis pela invasão e sequestro, assim como os organizadores da ação e os financiadores do grupo.
Britânicos desaparecidos
O destino de pelo menos dez britânicos ainda é desconhecido, disse o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague.
"Até agora, há pelo menos dez britânicos em risco ou desaparecidos, mas isso significa claramente que precisamos continuar a nos preparar para notícias ruins", disse Hague, em um pronunciamento na televisão.
Hague disse que falou com autoridades argelinas para ressaltar a necessidade de informações corretas e atualizadas sobre o desdobramento da crise no complexo.
(FONTE: UOL/ Reuters, Efe e AFP)