Por r-tadeu | Na Mira do Regis – seg, 6 de abr de 2015
Saber envelhecer bem não é uma arte muito comum dentro do meio pop. É muito mais fácil encontrar no rock gente que sabe de suas limitações e que aproveita o passar do tempo para se reinventar de modo brilhante. Robert Plant, Leonard Cohen, Bruce Springsteen e Jeff Beck, por exemplo, souberam conduzir suas respectivas carreiras ao longo de décadas de maneira brilhante, a ponto de ter cada um de seus mais recentes trabalhos como obras pelas quais todos ansiamos em ouvir.
No pop isto raramente acontece. Por conta da descartabilidade auditiva que reina nos últimos anos, são poucos os artistas desta seara que conseguem atravessar os anos sem se tornarem carcaças autodepreciativas, pálidas caricaturas de si mesmos.
Para quem sempre tratou a libidinagem de modo prioritário em sua carreira, Madonna propiciou uma tremenda broxada em cada pessoa que ouviu seu mais recente álbum, Rebel Heart. De rebeldia séria não há um único traço sequer, mesmo aos olhos e ouvidos das pessoas mais tradicionalistas e conservadoras que você possa imaginar. Musicalmente, é plenamente justificável a indiferença que o disco causou desde seu lançamento, antecipado por conta de um vazamento antes da hora na internet.
Esqueça os tempos em que heroínas, prostitutas, gigolôs e masoquistas frequentavam o universo musical da cantora. Chega a ser ridículo ouvir Madonna tentando soar como as Miley Cyrus da vida em canções como “Ghosttown”, híbrida de balada e pseudograndiloquência de araque incrivelmente constrangedora. Igualmente patética é sua tentativa em fazer uma espécie de raggamuffin + dancehall em “Unapologetic Bitch”, soando tão genuína quanto uma boneca inflável.
Se “Living for Love” parece alguma sobra rejeitada para um álbum da Kylie Minogue só com house music, o violãozinho de beira de fogueira em “Devil Pray” e a linha melódica que Madonna usou ao cantar esta música sugerem que ela andou ouvindo “The House of Rising Sun”, o grande clássico eternizado pelo The Animals, ao mesmo tempo em que botava discos da Loreena McKennitt para ouvir enquanto tomava banho. Isto gerou uma “salada” eletropop tão indigesta quanto comer azulejos quebrados.
Bastante atenta ao tipo de sonoridade que se usa hoje no r&b eletrônico americano, ela comete bobagens como “Illuminati”, uma imitação barata de todos os elementos deste estilo, com vozes passando por Auto-Tune, tecladinhos irritantes, batidas programadas cheias de breaks repentinos e produção do paspalho Kanye West. Não é à toa que ela chamou a insuportável Nicki Minaj para fazer uma participação insuportável no insuportável dubstep eletrônico “Bitch I’m Madonna”, um horror insuportável! Perdoe a repetição do adjetivo, mas não há outra maneira de explicar o asco que esta música provoca.
“Inside Out” e “Hold Tight” até poderiam soar melhores se fossem revestidas com arranjos e timbragens mais densas e pesadas, e não com batidas que parecem ter sido tocadas em caixas de papelão molhado, tudo temperado com tecladinhos de churrascaria de 17ª categoria. A mesma coisa acontece em “Iconic”, com a participação de Mike Tyson declamando bobagens e de um tal de Chance the Rapper, não fosse a timbragem instrumental totalmente equivocada.
A balada sacolejante “Joan of Arc” é um chororô contra a atenção que os paparazzi devotam a ela, um papinho que não cola mais nem na cabeça de crianças, quanto mais em gente adulta. Até quando artistas de grande porte continuarão a reclamar daquilo que buscaram a vida inteira? Porra, Madonna, vá encher uma laje e carpir um bom mato que o ‘mimimi’ passa rapidinho…
“HeartBreakCity” e “Wash All Over Me” trazem a cantora soando como uma versão solo e feminina do Arcade Fire, com aquela velha tentativa fracassada de criar um climão tão épico quanto uma corrida de joaninhas. Ela até que se dá bem quanto tenta emular a Sinéad O’Connor na interessante “Body Shop”, mas volta a derrapar ao buscar atingir as fãs desmioladas da Gwen Stefani na fraquíssima “Holy Water”.
A triste constatação é que Madonna tentou desesperadamente imitar as suas próprias imitadoras. Não tinha mesmo como dar certo…
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